Rodrigo estava atrasado mais uma vez...
Pacientemente andava de um lado ao outro da calçada frente a sua casa. Já havia mandado uma mensagem ao seu celular para que se adiantasse, havia certo receio de tocar a campainha, e acreditava que não influenciaria muito para adiantar seu retardamento. Trajava uma camisa azul que tinhas manchas nas costas, e impresso a sua frente uma mulher com headphones sensualmente pintada em tons pretos, sedutora em traços rápidos. Abaixo do olho direto uma pincelada cor de rosa. Fazia-se um dia quente, raros em tal posição geográfica, a barba já começava a me incomodar, nunca lhe fui um apreciador, esteticamente até achava que me caía bem, mas me agoniava, os pelos grossos atritavam com minha pele causando-me gastura.
Ouço os primeiros acordes de No Rain soar, é meu aparelho telefônico que vibra e canta, vejo no display outro nome insistente, e desisto. Quando me viro para avenida dou-me com sua imagem embaçada pela minha miopia. Já havia aprendido a conhecer seus passos, percebo que sua cabeça de repente pende para baixo, deixando cair duas mechas, e desconcertadamente, cheia de receios num ato impetuoso você se põe ereta novamente, passa as mãos sobre o cabelo, conserta-o e volta a andar, mas quando chega mais perto de novo acontece, você nunca conseguiria disfarçar...
Pacientemente andava de um lado ao outro da calçada frente a sua casa. Já havia mandado uma mensagem ao seu celular para que se adiantasse, havia certo receio de tocar a campainha, e acreditava que não influenciaria muito para adiantar seu retardamento. Trajava uma camisa azul que tinhas manchas nas costas, e impresso a sua frente uma mulher com headphones sensualmente pintada em tons pretos, sedutora em traços rápidos. Abaixo do olho direto uma pincelada cor de rosa. Fazia-se um dia quente, raros em tal posição geográfica, a barba já começava a me incomodar, nunca lhe fui um apreciador, esteticamente até achava que me caía bem, mas me agoniava, os pelos grossos atritavam com minha pele causando-me gastura.
Ouço os primeiros acordes de No Rain soar, é meu aparelho telefônico que vibra e canta, vejo no display outro nome insistente, e desisto. Quando me viro para avenida dou-me com sua imagem embaçada pela minha miopia. Já havia aprendido a conhecer seus passos, percebo que sua cabeça de repente pende para baixo, deixando cair duas mechas, e desconcertadamente, cheia de receios num ato impetuoso você se põe ereta novamente, passa as mãos sobre o cabelo, conserta-o e volta a andar, mas quando chega mais perto de novo acontece, você nunca conseguiria disfarçar...
- Olá Humberto.
-Bem? Então aceno com a cabeça.
-Meu irmão ainda não saiu? Já tocou a campainha? Bah, ele sempre se atrasa!
Explano que já havia lhe mandado uma mensagem e que ele não tardaria muito a chegar.
-Você está bem? – A pergunta me constrange, fixo os olhos nos seus e confiantemente quase silencioso digo-lhe um singelo "sim". Também pára, põe se a olhar, deixa as sacolas que carregava caírem de suas mãos, me abraça como senti em outra ocasião quando nos despedíamos na praia, escorre uma lágrima de seu olho, chego a não acreditar que tanto orgulho despencaria sobre meus ombros dessa maneira, de um jeito que se mede em metade compaixão, outra metade num sentimento mais forte lhe envolvendo num abraço caloroso.
-Volta, eu já não consigo mais...
-Eu também não, mas não dá, acabou!
A porta se abre, Rodrigo aparece sobre a luz da sala, faz sua graça, tira sarro da situação de um jeito peculiar. Você seca sua pele, agarra as sacolas rapidamente e diz um “tchau” ríspido pondo-se para dentro. Rodrigo ainda diz mais algumas asneiras, bobagens que intrinsecamente tem o coro de uma enorme torcida. Tomamos o rumo do bar.
A música estava demasiadamente alta e "suja". Quando todos estavam entretidos pus-me em mais um momento particular de reflexão, parado, olhando para o nada quietamente. Deixarei vago tudo que me passou naquele instante singular da minha existência afim de que nunca se descubra quais idéias perambulam pela minha mente no meu silencio. Tomei o celular em mãos e lhe mandei uma mensagem, talvez a primeira em dois meses.
A música estava demasiadamente alta e "suja". Quando todos estavam entretidos pus-me em mais um momento particular de reflexão, parado, olhando para o nada quietamente. Deixarei vago tudo que me passou naquele instante singular da minha existência afim de que nunca se descubra quais idéias perambulam pela minha mente no meu silencio. Tomei o celular em mãos e lhe mandei uma mensagem, talvez a primeira em dois meses.
“Precisamos reaver a situação da Nina”, então sorri. Queria lhe provocar, não que a cachorra não fosse importante para mim, o era, me sentia responsável por sua irresponsabilidade, mas no fundo um ímpeto que me levava a aguçar sua raiva me conduzia a isso.
Rodrigo me contara algumas vezes que o seu novo namorado havia tentado frustradamente tomar meu lugar de “pai” do cão, e que a dócil Nina agora estava raivosa, e ladrava contra o rapaz. Imaginei que você dava-lhe uns tapas por causa da impetuosidade, me aborreci, ao mesmo que tomado por uma satisfação maldosa. Ele tentava tomar meu lugar de pai?! Tudo ainda devia ter meu cheiro, os lençóis, o travesseiro, as paredes a ecoar minha voz, os ponteiros do relógio a esperar minha chegada. Você deverás estaria arrependida.
Mais algumas cervejas então tomo coragem para ligar, já se fazia 1 hora e meia de um novo dia, pela sua voz ao atender ele devia estar ao seu lado, mas como você certa vez foi estúpida o suficiente para atender ligações de outro sob meus olhos, não faria diferente agora. Ríspido reclamo da cachorra, digo que me pertence, e você só ouve, e depois desliga. Se não te conhecesse tão bem agora ficaria mais tranqüilo, mas entendo o turbilhão de problemas que esse telefonema causaria. Você tentaria dar insignificância, menosprezar, me odiar, mas de nada adiantaria.
Logo pela manhã recebo uma mensagem do Rodrigo me dizendo que Nina iria há uma consulta no veterinário. Retorno com uma ligação e peço lhe o endereço da clínica e tomo uma condução para o local.
-Você ainda o chama para vir aqui? Ríspido seu namorado aponta o dedo para sua face.
-Eu não o chamei.
-Fui eu homem, diz Rodrigo. Então silencia, fita-me com raiva.
O veterinário parece interpretar a situação e com uma voz grave chama a atenção de todos. Explana que pela falta de alimentação o cão acabou adoecendo, seria causa da depressão que estava a sofrer. Ele tem certeza do seu diagnóstico quando me aproximo do Cofap desengonçado sobre a mesa.
-O senhor é dono do cão?
Constrangido digo-lhe que sim e o tomo nos braços, pago a consulta e dou de costas para todos.
A noite recebo outra mensagem de Rodrigo: “A mana acaba de terminar o namoro com o almofadinha, kkk”.
Leio e suspiro... assovio para Nina que pousa ao meu lado no sofá. Teria sido melhor se tivesse lhe comprado uma tartaruga de presente.