segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Me ADD?


Sábado a noite

Parecia receosa quando me aproximei, diferente de alguns minutos antes...

- Posso? – disse, apontando para a cadeira ao seu lado.

Fez uma expressão como que a decisão dependesse somente de minha vontade. Estava sentada de costas para o balcão do bar. Pedi ao barman que me trouxesse duas garrafas verdes de cerveja, a mesma que ela segurava quase vazia.

- Qual curso você faz?

- Química, respondeu assim que o homem retornou com a bebida.

Sobre a cerveja, eu não pagaria nenhuma outra exceto aquela que lhe dava agora, poderia parecer que desejava somente sexo depois da segunda garrafa, ou mesmo que ela aproveitasse disso e ao fim, quando reivindicasse meu tempo e dinheiro gastos, a sua carruagem se transformaria em uma carona de última hora e seu sapato de cristal seria um número de telefone aleatório.

Já sobre o curso, apenas uma mera formalidade! Pelas redes sociais sabia seu nome, curso, animal de estimação e inclusive que estaria hoje aqui, estava a lhe observar a algum tempo nos corredores da Universidade.

- E você?

- Ciências da computação.

Uma amiga nos interrompe e cochicha algo no seu ouvido, ela sorri, responde algo também aos ouvidos da amiga.

- Foster the People! Curte? – Sim, tocava a música da banda que sabia que ela gostava, havia postado uma música em sua timeline, e era justamente aquela que vinha aos nossos ouvidos agora.

- Sim, adoro essa música! Qual o seu nome?

Durante os anos de minha vida quase que inteiramente por tentativa e erro, fui aprendendo que algumas coisas não funcionavam, simplesmente. A maior lição é que as mulheres enxergam tanto quanto os homens, a diferença talvez seja uma questão de sinapses. Os homens precisam se prestar a olhar e a olhar por minutos, talvez horas, enquanto o cérebro delas é capaz de tomar decisões no rápido intervalo de uma jogada de cabelo, se muito um cruzar de pernas, ou mesmo o cruzar já seja a decisão tomada.

- Guilherme.

- Guilherme... Eu gosto desse nome!

- Você puxa o “r” quando fala, de onde você é?

- São Paulo e você?

- Patos de Minas.

- Como?! – e riu.

- Patos, cuá, cuá... de Minas.

O mal de todo paulista é achar que vai induzir a pensar quem pergunta que São Paulo se trata da capital e não do estado...

- São Paulo, capital?

- Não, do interior. – respondeu arrastando ainda mais o “r”.

Posso dizer que foi uma noite que correspondeu as minhas expectativas. Não era uma das mais bonita da Universidade sendo honesto, mas possuía o jeito que me cativava e isso me fez persegui-la, mesmo que não tenha notado. Aliás, aí está o segredo da sociedade virtualizada.

Todo mecanismo tem um algoritmo e a chave está em conhecer tal. Antes, me lembro que o Orkut entregava quem visitou seu perfil, e nesse caso ela já teria me reconhecido como um “perseguidor”.Já no moderno Facebook, talvez tenha visitado tanto seu perfil que o mecanismo tenha me sugerido como um possível conhecido, e se ela talvez não se importasse tanto em descartar tais sugestões infundadas, provavelmente tenha visto minha cara sorridente pela fotografia.

Antes da noite anterior terminar, me ofereci para acompanhá-la até a sua casa num táxi, mas ela recusou.

No dia seguinte restava saber se o número não era um número aleatório. Mandei um simples SMS, que obteve respostas horas depois. Se tudo ocorresse como planejado, algumas visitas ao seu perfil virtual bastaria para que o algoritmo me trouxesse novamente a sua lista de potenciais amigos.

Quinta a tarde

Já desesperadamente visitava seu perfil, vi que o atualizava mas nada de me adicionar, talvez a ela tivesse muitos potenciais amigos, ou mesmo que não ligasse para tal informação, mas estranhamente respondia com interesse minhas mensagens ao celular.

Não resisti e a convidei para sair, precisava vê-la mesmo que isso não seguisse a estratégia inicial de fazer com que isso viesse de forma natural numa conversa online. Ela aceitou.

Sexta a noite

- Preciso lhe contar algo.

- Diga.

- Olha, eu gostei de você, me parece um cara legal...

Eu sabia que não era o fim, apenas medo...

- Eu também gostei de você.

- Pois é, então não me leve a mal mas é que não gostaria de me envolver muito sabe.

Fitei-a interrogativamente...

- É que eu tenho uma filha.

Sófia carregava os mesmos olhos da mãe e adorava a Galinha Pintadinha, nada que me surpreendesse, cantavam juntas em vídeos disponíveis em sua conta no YouTube.