Sábado a noite
Parecia receosa quando me aproximei, diferente de alguns minutos
antes...
- Posso? – disse, apontando para a cadeira ao seu lado.
Fez uma expressão como que a decisão dependesse somente de minha
vontade. Estava sentada de costas para o balcão do bar. Pedi ao barman
que me trouxesse duas garrafas verdes de cerveja, a mesma que ela segurava
quase vazia.
- Qual curso você faz?
- Química, respondeu assim que o homem retornou com a bebida.
Sobre a cerveja, eu não pagaria nenhuma outra exceto aquela que lhe
dava agora, poderia parecer que desejava somente sexo depois da segunda
garrafa, ou mesmo que ela aproveitasse disso e ao fim, quando reivindicasse meu
tempo e dinheiro gastos, a sua carruagem se transformaria em uma carona de última hora e seu
sapato de cristal seria um número de telefone aleatório.
Já sobre o curso, apenas uma mera formalidade! Pelas redes sociais
sabia seu nome, curso, animal de estimação e inclusive que estaria hoje aqui,
estava a lhe observar a algum tempo nos corredores da Universidade.
- E você?
- Ciências da computação.
Uma amiga nos interrompe e cochicha algo no seu ouvido, ela sorri,
responde algo também aos ouvidos da amiga.
- Foster the People! Curte? – Sim, tocava a música da
banda que sabia que ela gostava, havia postado uma música em sua timeline,
e era justamente aquela que vinha aos nossos ouvidos agora.
- Sim, adoro essa música! Qual o seu nome?
Durante os anos de minha vida quase que inteiramente por tentativa
e erro, fui aprendendo que algumas coisas não funcionavam, simplesmente. A
maior lição é que as mulheres enxergam tanto quanto os homens, a diferença
talvez seja uma questão de sinapses. Os homens precisam se prestar a olhar e a
olhar por minutos, talvez horas, enquanto o cérebro delas é capaz de tomar
decisões no rápido intervalo de uma jogada de cabelo, se muito um cruzar de
pernas, ou mesmo o cruzar já seja a decisão tomada.
- Guilherme.
- Guilherme... Eu gosto desse nome!
- Você puxa o “r” quando fala, de onde você é?
- São Paulo e você?
- Patos de Minas.
- Como?! – e riu.
- Patos, cuá, cuá... de Minas.
O mal de todo paulista é achar que vai induzir a pensar quem
pergunta que São Paulo se trata da capital e não do estado...
- São Paulo, capital?
- Não, do interior. – respondeu arrastando ainda mais o “r”.
Posso dizer que foi uma noite que correspondeu as minhas
expectativas. Não era uma das mais bonita da Universidade sendo honesto, mas
possuía o jeito que me cativava e isso me fez persegui-la, mesmo que não tenha
notado. Aliás, aí está o segredo da sociedade virtualizada.
Todo mecanismo tem um algoritmo e a chave está em conhecer tal.
Antes, me lembro que o Orkut entregava quem visitou seu perfil, e nesse
caso ela já teria me reconhecido como um “perseguidor”.Já no moderno
Facebook, talvez tenha visitado tanto seu perfil que o mecanismo tenha me sugerido
como um possível conhecido, e se ela talvez não se importasse tanto em
descartar tais sugestões infundadas, provavelmente tenha visto minha cara
sorridente pela fotografia.
Antes da noite anterior terminar, me ofereci para acompanhá-la até
a sua casa num táxi, mas ela recusou.
No dia seguinte restava saber se o número não era um número
aleatório. Mandei um simples SMS, que obteve respostas horas depois. Se tudo
ocorresse como planejado, algumas visitas ao seu perfil virtual bastaria para
que o algoritmo me trouxesse novamente a sua lista de potenciais amigos.
Quinta a tarde
Já desesperadamente visitava seu perfil, vi que o atualizava mas
nada de me adicionar, talvez a ela tivesse muitos potenciais amigos, ou mesmo
que não ligasse para tal informação, mas estranhamente respondia com interesse
minhas mensagens ao celular.
Não resisti e a convidei para sair, precisava vê-la mesmo que isso
não seguisse a estratégia inicial de fazer com que isso viesse de forma natural
numa conversa online. Ela aceitou.
Sexta a noite
- Preciso lhe contar algo.
- Diga.
- Olha, eu gostei de você, me parece um cara legal...
Eu sabia que não era o fim, apenas medo...
- Eu também gostei de você.
- Pois é, então não me leve a mal mas é que não gostaria de me envolver
muito sabe.
Fitei-a interrogativamente...
- É que eu tenho uma filha.
Sófia carregava os mesmos olhos da mãe e adorava a Galinha Pintadinha,
nada que me surpreendesse, cantavam juntas em vídeos disponíveis em sua conta
no YouTube.
Que texto bom de ler!!!!
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