Eu não consigo diferir o que é verdade, do que não é. Minhas alucinações prendem-me a duas dimensões distintas. Eu não sei quando estou acordado, nem quando estou dormindo, e não sei agora.Tudo parece ser real, mas recuso me a aceitar, prefiro crer que estou sonhando, como tantas outras vezes.
Fiz coisas do mesmo feitio, e despertei com um lindo raio de sol tocando meu rosto com seu brilho ardente, encharcado pelo suor da minha elucides, com o coração bombeando fortemente sangue pelas minhas artérias, o podia sentir, se mais um pouco, o apoiar com as mãos, acolchoando suavemente entre duas palmas calejadas de trabalho.Devo estar sonhando, devo, será questão de tempo para que minha consciência torne ao que se chama de mundo físico.
Minha garganta seca, minhas mãos tremem, estou sujo, o suor, não o mesmo de uma alucinação, mais viscoso, o de trabalho, começa a aderir ao tecido de minha camisa que já contém um odor típico de um dia inteiro debaixo o sol. Não me pertuba, mas Rita se incomodava com o cheiro, tratava de por me debaixo o chuveiro, ou debaixo do brilho da lua. Ás vezes, cansado e em dias frios, repudiava ter que ficar debaixo daquele bico d’água gelada que chamam de chuveiro. Então não me importava de ficar na rede olhando a lua até adormecer, Rita não me dava amor mais, e seu cheiro também não me agradava. Ela fedia perfume bom, e dizia que era presente da mãe. Veja se a velha moribunda e morta de fome daria um negócio granfino daqueles pra filha biscate! Quem presenteava era o talarico dono da farmácia, que bem por cá dava as caras quando me punha ao trabalho. Filho da mãe! Mal sabe gastar o dinheiro que ganhas. Logo com Rita, que cintura já não se via, as tetas caídas pendiam como saco vazio, e sua buceta mucha e gorda não dava caldo. Filho da mãe! Por quase não o pego também.- Só você pagou por isso Rita burra! – Converso com o defunto ensangüentado sobre a cama.
Deixá-la-ei bem aqui, para quando o seu amante vir lhe meter o pegue com a mesma faca, e a contorça dentro do seu cangote, não antes de lhe dar a chance de se defender e morrer como homem.
- Rita! Rita! Rita! Grito, porque amo a vagabunda esquartejada sobre a cama.
- Não era pra ser assim meu amor, não era, eu juro por tudo que é mais sagrado que te amo, não foi sua culpa, sei que não tinhas a intenção de me trair, sei que não!
- Pare de berrar homem e se arrete que já é dia! A voz de Rita estrala dentro da minha cabeça. Aconteceu de novo, era só coisa da minha imaginação, a velha Rita ainda está aí gorda como sempre. Visto-me e coloco-me a mesa para o café. Ela tagarela seus problemas.Enfim parto para a labuta, o sol arde, corre do meu chapéu uma gota de suor que cai e ofusca minhas vistas. Ouço um carro vindo em alta velocidade cortando-me, chega a frente e abre uma de suas portas, dou uma coçada no olho e os ponho em direção ao automóvel, um tipo barbudo saca uma arma e aponta para mim, dispara três e adentra novamente no automóvel, partindo com pressa. Estirado sob o sol vou perdendo os sentidos, ouço movimentos vindos de minha casa, Rita não vem ao meu socorro, outro carro, só que agora lentamente vem em minha direção, apenas sinto suas rodas tocarem o asfalto, para e sombrea meu corpo com sua estrutura, o filho da mãe tira os óculos, deve ter vindo conferir o serviço, farmacêutico filho da mãe! Ele se afasta, com velocidade agora, os raios de sol voltam a me tocar, são os últimos.
Henrique tô de queixo caido!
ResponderExcluirMuito bom!
Rita vagaba!
Caramba Henrique.
ResponderExcluirUm texto curto, mas com espaço absolutamente bem administrado. Muito interessante a maneira como o conto faz um ping-pong de um extremo a outro, brincando com a idéia que o leitor vai construindo em relação ao conto, e também com a imagem que vai criando do narrador e da Rita.
No conto todo é muito interessante o modo como você explora ao máximo os detalhes, tanto as características objetivas nas descrições, quanto as subjetivas (que na minha opinião, sem dúvida deram um tempero todo especial a esse conto).
Do meio ao fim do texto, a história fica cada vez mais surpreendente e o final praticamente dispensa comentários... é a típica sensação de final de um bom conto em que cada linha lida te deixa mais curioso, e sem querer você aumenta a velocidade da leitura para chegar logo ao ápice: a última, e decisiva frase...um delicioso orgasmo literário.
Parabéns Henrique!
O típico conto-bala das 5 da manhã
ResponderExcluirVai no tiro, sem checar, sem ver, apenas vai... Quando vê, já foi. E já foi bem.
Sem vírgulas, sem pontos, apenas a peça, a historia, o pedaço da imaginação que desprende. Como um karma que você arranca. Agora você pode dormir em paz, o peso já foi.
E o produto ficou...
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