quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Quarto Jardim - Caio Machado

Você sabe de qual lado vai ficar em apenas um beijo. Eu já não sentia mais aquelas línguas ásperas invadindo meu céu da boca. Nem mesmo aqueles queixos barbudos rasgando meu queixo microscopicamente. Esfoliando minha libido, com toda aquela virilidade e brutalidade masculina. Mesmo gostando de tudo isso, descobri que preferia Michele e que mesmo sendo mulher optaria por ser homossexual. Mesmo elas sendo delicadas, inseguras e altamente perigosas. A única justificativa para que eu continuasse sendo heterossexual seria a obtenção completa de prazer e a necessidade de reprodução humana. Bem, quanto ao prazer nos tínhamos nossos métodos e quanto à reprodução, não me interessava nem um pouco.
Tudo iria bem ao começo, mas um dia Michele logo iria me largar. Amor não existe claramente, você só o detecta na sua perda, assim como a existência. Eles só sabem que você realmente viveu depois de te verem morto e muito bem enterrado, cremado, esquecido ou o que for. No entanto eu precisava de outra mulher, mas não sabia bem como iria conseguir. Meu lance com a Michele aconteceu de súbito, nos conhecemos em um casamento de um primo meu. Ela era irmã da noiva e por isso a gente passou a se ver com muita freqüência depois da festa do casamento. Não sabia dessa minha preferência e muito menos como ir à caça. Tive foi sorte e a partir de agora teria que improvisar.
Consegui esse trabalho de jardineira depois de me especializar em um desses cursos bem baratinhos que se tem por aí. Pra minha infelicidade nenhuma colega minha se mostrou apta as minhas exigências e minha abstinência só crescia. No meu primeiro trabalho, uma senhora muito velha me contratou. Pensei comigo e meus botões: “Tenho 23 anos, não estou tão desesperada a esse ponto ainda”. Levei quatro jardins diferentes de diferentes donos pra conseguir minha primeira mulher. Eu usava roupas claras e largas, não vestia lingerie por baixo e fazia questão de me molhar bastante, para que eu ficasse irresistível. Minha sensualidade aturdiu Paula, aquela representante de vendas que no auge de sua curiosidade me puxou pra sua cozinha e me encheu de beijos e afagos enquanto eu me despia. Ela era loira, bem rija e tinhas umas fantasias estranhas enquanto ouvíamos Djavan no seu quarto. Vivi quatro meses com Paula. Continuei fazendo seu jardim tanto por necessidades financeiras quanto eróticas. Paula achava aquilo o maior fetiche do mundo. Por coincidência Roberto também me achava um tanto quanto sexy. Não mencionei antes, mas ela é devidamente casada e seu marido que passava a maioria do seu tempo viajando por causa de seu trabalho estaria de volta por estar de férias naquele momento.
Certo dia, fui trabalhar e Paula havia viajado. Entrei pela cozinha que ficava nos fundos da casa e não a encontrei. Já tinha bastante liberdade de ir e vir por toda a casa. Roberto me observava na sala de estar e quando passei por ele, me chamou para fazer uma suposta pergunta. Eu não levei a mal e encarei na maior ingenuidade. Assim que me aproximei o cretino me violentou e antes que tentasse me estuprar eu resolvi ceder para ele. Não vou mentir, foi muito bom. Era evidente que Paula soube muito bem como escolher seu marido. E não era justo que eu pudesse também sentir prazer por completo algum dia? Depois disso, Roberto me demitiu por medo de que Paula descobrisse, alegando que eu havia furtado um vaso da sala de estar. E para quem procurava saciar a sede de prazer, acabei ficando sem os dois.
Revisão: Maele Finger

3 comentários:

  1. Eu gostei desse conto, gostei mesmo dele!
    Envolvente, criativo e bem escrito.
    E esse feeling pervertido (haha! essa é a parte em que eu antecipo a minha morte) está na mesma proporção para o conto que o orégano está para a pizza... a não ser que você seja alérgico à especiaria.

    Parabéns Caio!

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  2. C-A-R-A-L-H-O
    Antes de chegar na parte da Paula até tinha pensado ''23 anos, olha eu aí futuramente'' HDSDHSKAUHDUSKAHDKASHDKLSAHDKADHDKUHSAHDKSA
    Mas depois que chegou na parte da Paula, aí fudeu...[literalmente]
    Ótimo texto, muito envolvente e já disse que compraria um livro seu fácil, né?
    Um beijo, suposto professor de gaita!

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  3. EU ODIEI, ODIEI COM MUITO ÓDIO TODOS OS CONTOS. ESSE IRREALISMO SÓDIDO DE TÃO REAL. UM MISTO DE KAFKA, GABRIEL GARCIA MARQUES E FRANK MILLER. CARALHO. ESSA PSEUDA SOLIDÃO E E POESIA DE QUEM AINDA COME MIOJO TODOS OS DIAS E MASTURBA PENSANDO NA, DEIXA PRÁ LÁ. ODIEI E ODEIO, ESSE FILHO-DA-PUTA, ESCREVE O QUE EU QUERIA ESCREVER E NÃO TENHO CORAGEM. EU ODEIO MAS É DE INVEJA. ESSE FILHOTE DE JORNALISTA ESCREVE MELHOR QUE EU, QUE FAÇO ISSO HÁ DÉCADA. SERÁ QUE É ÓDIO MESMO.
    CONTINUE ESCREVENDO QUERO SENTIR MUITA INVEJA E ÓDIO DE SUAS PALAVRAS NUAS E CRUAS. SUBLIMES!

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