terça-feira, 8 de abril de 2014

Choque - Caio Machado

Tomava banho avidamente e vangloriava-se da última noitada que teve com Sofia. Segurava seu membro veemente e com a mão esquerda girou a torneira para desligar o chuveiro. Uma corrente elétrica atravessou seu corpo. O chuveiro não era aterrado e ele já não se lembrava. Sentiu um fio elétrico cortar sua barriga e percorrer toda sua região peniana. Soltou o pênis de súbito e quase escorregou no chão do banheiro.

Recuperou-se do susto e desligou o fluxo da água segurando a torneira com sua toalha. Enxugou-se desacertadamente e se vestiu com o corpo ainda úmido. Foi urinar e o membro flácido retorceu-se fazendo com que ele molhasse toda sua calça jeans. Já não sentia mais o pênis entre as pernas. Tateou-se desesperadamente e não conseguiu sentir nada além da pele que seus dedos tocavam. Trocou de calças e correu até a junta de saúde do quarteirão de baixo.

O urologista disse que a sensibilidade foi perdida pela descarga elétrica e que por sorte o canal urinário não havia sido deteriorado. O tratamento de reversão lhe custaria cerca de cinquenta mil reais, e apenas um de dois pacientes havia sobrevivido ao procedimento, considerado altamente arriscado. Ele não conseguiria pagar. Recomendou-lhe que tivesse paciência com a situação e até indicou um grupo de apoio da igreja protestante.

Recorreu à pornografia pesada por várias horas a fio. Assistiu aos vídeos caseiros feitos com suas colegas de trabalho em festas da firma. Tentou pornô gay, necrofilia, scat, tortura, zoofilia. Nada feito. Na farmácia cantou a atendente e nem isso o estimulou. Ingeriu uma cartela inteira de Viagra. Lembrou-se de sua primeira vez com sua prima caçula na fazenda. Nada funcionou.

Acendia um cigarro e o esmagava contra o cinzeiro. Não sentia mais vontade de fumar. Estava ciente de ter destruído a sua única razão de existir. Sentia-se um eunuco deprimido. Imaginava seu pênis sendo guilhotinado por um cortador de charutos enferrujado a todo o instante. Tentava dormir, mas não pregava os olhos. Enfiava a mão dentro do zíper e sentia novamente sua mão tateando aquele membro lânguido e gelado.

Ligou pra Sofia e aos prantos criou coragem para contar. Ela gargalhou bastante e entendeu aquilo como uma nova fantasia dele. Aos soluços ele só conseguia dizer para que ela viesse até sua casa. Ingeriu todo o resto da garrafa de conhaque e afundou-se no sofá. Aguardou de luzes apagadas e parecia para ele que cada segundo estava perdurando por vários anos.

Viu o corpo despido de Sofia e percebeu que uma enorme excitação preenchia todo seu corpo. Suava frio, pois a única parte essencialmente necessária estava intacta e estática. Apertou seus dedos contra as nádegas de Sofia e a puxou para perto de si. Nada aconteceu. Sofia abaixou-se pelo seu corpo e colocou o membro dele em sua boca. Insistiu muito até salivar e levantou-se da cama vestindo-se constrangidamente. Ele estava arruinado.

Ainda nu, enfiou o pênis dentro do aquário de seu peixinho betta. Esperava de verdade que fosse atacado e mordido. A criaturazinha azulada reduziu-se a esconder no fundo rochoso e falso do vidro cheio d’água fétida. Esmurrou o aquário espatifando-o e assistiu com desdém o pobre animalzinho se debater até morrer no imenso carpete da sala.

Acendeu o isqueiro embaixo de seu saco e viu as gotas de sangue pingar e sentiu o forte cheiro de pele queimada. O odor não lhe parecia tão ruim. Não havia mais nada a fazer, ele já não sentia absolutamente nada ao redor de sua virilha. Pensou em fazer um empréstimo. Pensou em se matar.

Atirou-se do terceiro andar do prédio de seus pais. Quebrou três costelas e não morreu. Regozijando-se conseguiu colocar a mão dentro de sua calça. Sentia novamente o sangue quente fluindo e percorrendo o interior de seu pênis. O choque em sua costela havia reanimado seu falo desfalecido. Desmaiou de dor e não se sabe ao certo se ele acordou.

Frutal, 04/05/2013

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