quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Eu Gênio Esquizofrênico - Henrique Donancio

- Ah! Essas mulheres... preste atenção no que estou a lhe segredar – encostou a boca ao pé do ouvido de Eugênio e falou em tom baixo.
- Tem certeza?!
- Absoluta meu caro amigo, não há falhas!
Assim monologava Eugênio, durante os últimos três meses, quando então começara a amizade com Francesco. O primeiro era um ser exótico, cabelos loiros ofuscados, penteados como uma terra pronta para o plantio, olhos grandes e curiosos, lábios singelos, ressecados pelo longo tempo que permaneciam sem o menor movimento, de porte magro e alto que se movimentava de maneira desorganizada; os braços pareciam não seguir o compasso que as pernas ditavam. O segundo um italiano naturalizado, forte, queixo largo, cabelos lisos e negros que reluziam um tipo de brilho azul, a darem no pescoço espesso, olhos verdes que pareciam tocar seu sobrolho, além de lábios carnudos cobertos por uma vermelhidão viva. Apesar da grande diferença entre os dois, se davam bem. Eugênio desde que foi abordado pelo italiano no caminho de volta á sua casa após a aula, começara a sofrer mudanças notáveis. Abdicara das roupas estampadas de xadrez, das calças largas beges que usava, passando a vestir-se com camisas sociais de bom feitio, dobradas a meio braço; trocara o tecido que envolvia as pernas por um jeans acinzentado, também tomara gosto em apreciar bons sapatos, tendo sempre o cuidado de deixá-los brilhando.
Já não se ocupava com os estudos como outrora fazia. Seguindo os conselhos de Francesco estava a se socializar cada dia mais, tomava seu tempo em alguns minutos numa conversa pelo telefone, em outras talhava alguns poemas, trocara os livros técnicos pelo romantismo europeu, tinha cuidado ao se vestir, cuidado que aumentava quando se preparava para festas.
Francesco aconselhou-lhe a se entregar aos vícios, sentir o prazer da bebida, do trago de um bom cigarro...
- Vê, porte-se como um desregrado, apático a tudo que lhe cerca, não olhe para aquilo que deseja, a não ser que seja um olhar tomado de cansaço, baixo e corriqueiro... olhe para os pés, aguçará a sua curiosidade como também a delas...
Tudo isso começara quando desabafara para Francesco o desejo de consumir um grande amor que o devorava. Antonieta era a típica menina “mais popular da faculdade”. Sua personalidade cheia de formas juntava a obra com uma beleza estúpida. Tinha cabelos loiros, grandes quase a tocar em suas nádegas perfeitamente simétricas. O olhar sensual, de grandes olhos largos e poucos espessos tomados de um azul esverdeado contrastavam com lábios finos, pintados de um vermelho promíscuo. Eugênio a primeira vista tomou-se de um completo repúdio, seria apenas mais uma mulher bonita, mais uma que nunca segurara um bom livro em suas mãos, que nunca apreciara qualquer tipo de arte, que parasitava o dinheiro dos pais. Eugênio se enganara! Antônieta Borges era extremamente inteligente, conhecia bons autores de qualquer nacionalidade e época, cursava Direito, e sua malícia era algo que se encaixaria perfeitamente a sua futura profissão. Tinha gosto pelos prazeres de uma vida banal, fumava Blacks,e bebia Red Label, a única exceção é que nenhum universitário havia lhe tocado até então, e Eugênio desafiara-se a isto.
Era apenas um nerd do curso de computação, quando conheceu Francesco...
Hoje seria o dia perfeito segredava o amigo, que compartilhava suas experiências com tipos como esse.
- Essas mulheres gostam de quem lhes gosta pouco, vá por mim, já lhe falhei alguma vez, veja! Agora, graças a mim, têm amigos, garotas na palma de sua mão, e até dispensa-as para atingir sua amada! Lembre-se do seu amigo quando estiver por cima dela num dos quartos daquela festa, lembre-se de mim!
A festa estava animada quando Eugênio chegou. Completava a última peça do seu quebra-cabeça visual, deixara os óculos em casa, e parecia não ter penteado os cabelos.
- Ela está ali caro amigo, linda, gostosa como sempre, e o melhor... sozinha.
- Devo ir lá?
- Se quiser estragar tudo sim. Se acalme, vamos, não quer deixar tudo correr água abaixo, ou quer? Deixe-se notar, ela há de ver. Vamos agora, ela irá se servir com Uísque, então chegue mais perto lhe dê as costas e pegue a garrafa antes, sirva-se.
Quando Antônieta estava a dois passos da mesa...
-Pode me servir um pouco desse Uísque? Ainda tinha um ar desdenhoso em sua voz.
- Claro, pode pegar ess...
- Não! Não ofereça seu copo, lhe arrume outro, precisa estar com um em mãos.
- Certo, certo.
- Está tudo bem?!
- Sim estou, tome seu copo.
Quando ambos já bêbados se cansaram da conversa subiram até um quarto...
- Você tinha razão Francesco, essas mulheres são as melhores meu velho, você viu quando ela cavalgou sobre mim?! Quase não consegui me controlar, por um minuto deixei de pensar em algo que me distraísse.
- Eu vi caro amigo, eu vi, você quase terminou com a sua noite naquele instante, tem que se controlar, dispersar seu pensamentos, se não põe a perder todo o prazer de sua garota...
Antonieta voltava à sobriedade plena. Deitada com a cabeça posta em um travesseiro via a cena. Por todo o tempo do que parecia uma conversa esteve a prestar atenção em Eugênio, ali sozinho, sentado sobre a cama de costas para ela, falando para as paredes...

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